JÁ JOGASTE... SUPER HOT?
Sejamos sinceros:
se há género mais estagnado dentro dos videojogos é o de first person
shooter. Isto não é propriamente algo mau, afinal também é o género mais
acolhedor. Ao contrário de jogos de estratégia ou plataforma, as regras e
objectivos são simples e os controlos normalmente repetem se de título para
título, dentro da mesma franchise ou não.
Claro que há um ou outro caso que insere novas abordagens tal como uma forma de movimento mais frenética ou um cenário dinamicamente destrutível; mas intensificar qualquer elemento do jogo - seja velocidade ou destruição dinâmica, por exemplo, não significa que em última instância, a abordagem do jogador mude. Se a forma como o jogador aborda for sempre igual, numa sequência repetitiva de nasce, corre, cobre, mata, morre; então modificar os valores de certos elementos não irá mudar a essência do jogo.
Claro que há um ou outro caso que insere novas abordagens tal como uma forma de movimento mais frenética ou um cenário dinamicamente destrutível; mas intensificar qualquer elemento do jogo - seja velocidade ou destruição dinâmica, por exemplo, não significa que em última instância, a abordagem do jogador mude. Se a forma como o jogador aborda for sempre igual, numa sequência repetitiva de nasce, corre, cobre, mata, morre; então modificar os valores de certos elementos não irá mudar a essência do jogo.
E é exactamente a
abordagem do jogador que Super Hot muda.
Em Super Hot, o tempo apenas avança quando o jogador avança.
Isto significa que qualquer inimigo, qualquer bala, qualquer ataque, pode ser pausado pela falta de movimento do jogador. É provavelmente a melhor e mais eficaz integração de câmara lenta no gameplay, um efeito com grande poder cinematográfico que tem tentado ser adaptado no mundo dos videojogos desde que as irmãs Wachowski (sim, irmãs) mostraram, no seu filme The Matrix de 1999, o que viria a ser conhecido como bullet time, o efeito de abrandar o tempo e visualizar cada bala disparada, além da habilidade associada de fugir ás mesmas.
Cada nível deste jogo passa assim a ser um puzzle a ser reflectido, em que jogadores mais impacientes podem acabar por se ver a perder vez e vez sem conta. Frustante? Não. Os loadings são rápidos e cada nível é constrúido para durar normalmente apenas cinco a seis segundos reais.
O jogador surge no meio duma situação de ação imediata, normalmente uma emboscada por misteriosos antagonistas armados com todo o tipo de armas. Quanto tempo o jogador demora a resolver o nível... bem, isso depende apenas de quanto ele se mover.
Tudo isto inverte as regras tradicionalmente associadas aos FPS: já não são os momentos em que o jogador se mexe que define o seu sucesso, mas a estratégia que ele decide tomar nos momentos em que está parado.
Além disto, o que faz o jogo destacar-se são também os visuais escolhidos. Os cenários são brancos, quase como modelos sem textura, onde é fácil encontrar os inimigos, verdadeiros vitrais humanoides encarnados que estilhaçam ao serem derrotados com grande satisfação. Uma escolha peculiar que se adequa á apresentação geral do título e também à sua história... que está longe de primar tanto como a jogabilidade.
Super Hot, tal como muitos jogos de quebra cabeças, acaba por não ter uma evolução, cada nível sendo ligeiramente diferente do outro, mas mostrando tudo o que de valor tem logo nos primeiros momentos. No geral, consegue dar a sensação de ser apenas uma demonstração, uma prova de conceito, quiçá a vir tornar se um título completo.
Mas deixemos isto esclarecido: nada bate matar um inimigo com uma katana, atirar a mesma à cara de outro, agarrar a arma deste do ar, contornar as balas do último, e assim atingi-lo mesmo no meio da testa. É o sonho molhado de um fã de filmes de acção.
Super Hot existe para Windows, MacOS, Linux e Xbox One.
JÁ JOGASTE... HER STORY?
Durante os anos 90 e início de 2000, surgiu uma moda nos videojogos em que se começou a usar parcialmente clips live action para conectar as secções de gameplay. Esta escolha de direcção foi uma forma de desenvolver melhores cutscenes, além de tentar trazer a qualidade cinematográfica para a indústria.
Embora existam alguns títulos de renome, ou no mínimo, de culto, no geral foi uma técnica que falhou: os produtos finais nunca conseguiram de forma satisfatória unir as partes de vídeo e do jogo em si, não só por causa da falta de gráficos realistas para tentar equilibrar os visuais de ambas, mas também porque o gameplay nunca beneficiava estritamente da apresentação em vídeo (que para além disto, normalmente também tinha muita má qualidade), acabando por ser apenas uma escolha mísera de apresentação.
Felizmente esta técnica não ficará para sempre conhecida como inadequada nos videojogos, em muito graças a este título, que não só faz óptimo uso da técnica como é a peça fundamental para o jogador mergulhar a fundo na narrativa. O gameplay de Her Story teria sido essencialmente prejudicado caso tivesse sido decidido que as cutscenes não fossem filmadas em live action, e isso mostra o valor que o bom uso desta técnica tem.
Neste título o jogador interage com um computador ligado ao arquivo de provas e documentos de uma esquadra de polícia, e é a sua função investigar um caso usando unicamente videos de interrogatório. Nestes podemos ver apenas uma mulher chamada Hannah Smith, suspeita de estar envolvida no homicídio do marido. Tem um álibi forte mas à medida que a história se desenrola é fácil perceber que nada é bem o que parece.
O jogador desenrola esta narrativa de particular grande qualidade usando o sistema de procura do computador, procurando palavras-chave presentes nas transcrições dos clips, aos quais pode aceder e visualizar. Graças a isto, não existe ordem correcta para aceder a todos os interrogatórios e é o trabalho do jogador fazer sentido de tudo o que vê e ouve. A história apenas termina quando o jogador não conseguir achar mais nenhum vídeo relevante ou quando achar que já conhece, ou já compreendeu, tudo o que se passou. É quase como um livro que obriga a procurar as páginas e a organizá-las á medida que são lidas.
Este peculiar gameplay poderia facilmente falhar tendo em conta a sua enorme complexidade de conseguir uma percepção correcta a todo o tempo por parte do jogador mas asseguramos que Her Story tem sucesso neste campo.
Um original e fantástico título, arriscamos dizer como nenhum outro, adequado até a quem não gosta de videojogos.
Her Story existe
para Windows, Mac OS e Android.
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